terça-feira, 2 de fevereiro de 2021

Não deixa o baque parar

  O ano de 2019, foi de muitos movimentos para nós do Maracatu Truvão. Em setembro, comemoramos o nosso aniversário de 15 anos com a galera da Turucutá, em outubro rolou o nosso cortejo e apresentação no Gasômetro - projetos que tomaram forma graças ao financiamento coletivo e contribuição de rede de amizades e parcerias, como Dona Conceição, Diih Neques - Percussão e o Projeto Alùja, Gutcha Ramil Magalhães, Afro-Sul Ọdọmode, Loua Pacom, NAÇÃO Tambores da Vila, Sankofa Drums. 

   Agradecemos, de coração, todo mundo que formou parte dos 15 anos do Truvão na rua! Nossas vontades eram de continuarmos em movimento, mas, em 2020, com o COVID-19, a pandemia e um governo com ela "despreocupado", tudo assumiu outro significado e, de repente, as movimentações passaram a colocar em risco a vida de tod_s nós. Parou: todo mundo em casa, por tempo indeterminado.

  Com a pandemia, vieram as ausências, as saudades dos ensaios e dos domingos culturais no Odomodê - espaço de construção afetiva e política -, os corpos sem brincar, dançar e tocar. Como resistir e se movimentar frente a tantos retrocessos, ao governo genocida e autoridades racistas? Não tem como romantizar o isolamento, mas não  podemos deixar o baque parar. É tempo de torcer que todo mundo tenha acesso à vacinação, é tempo de nos curar e nos fortalecer. 

  "Omulu foi salvo por Iemanjá quando sua mãe, Nanã Burucu, ao vê-lo doente, coberto de chagas, purulento, abandonou-o numa gruta perto da praia (...) Iemanjá recolheu Omulu e o lavou com a água do mar. O sal secou suas feridas. Omulu tornou-se um homem vigoroso (...)". (excerto do itan "Omulu ganha pérolas de Iemanjá, do livro "Mitologia dos Orixás", de Reginaldo Prandi.

Esse ano é regido pela mãe da criação, da geração, que é muitas vezes casa, morada, escuta daqueles que são terra e vivem no mar, Odoyá Iemanjá!

  Agradecemos a nossa referência de ancestralidade Iara Deodoro dançarina, coreógrafa, assistente social, mulher preta, mãe, vó que acolhe e cuida desse grupo há tantos anos. Para nós é uma honra fazer parte dessa casa, que é o Instituto Sociocultural Afro-Sul Ọdọmode que possamos vivenciar muitos anos de parceria, muitos movimentos e águas!

  Escolhemos essa data para dizer que estamos aqui nos redescobrindo e entendendo como é viver e ser um grupo que canta, dança, toca e respeita o Maracatu de Baque Virado, agora, numa pandemia. Seguimos, em casa, alguns na linha de frente, e sempre na luta. Esperamos que estejam bem e cuidando de si e dos outros. Saudades!

"Segura o baque, Truvão, não deixa o Baque parar...". 

foto:
Tuane Eggers

foto:
Tuane Eggers


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